Mas que história é essa dos percentis?

Para saber o que é um percentil basta ir à wikipédia: «Em estatística descritiva, o k-ésimo percentil Pk é o valor x (xk) que corresponde à frequência cumulativa de N k/100, onde N é o tamanho amostral.» O que em língua portuguesa pode ser traduzido para: o percentil é o valor que divide a amostra num determinado ponto. Por exemplo, podemos dividir as as crianças com a mesma idade e o mesmo sexo em função do seu peso. Assim, o percentil 25 (P25) divide as crianças de tal forma que 25% das crianças ficam abaixo do P25 (ou seja, pesam menos que o P25) e 75% ficam acima desse valor. No mesmo exemplo o percentil 50 (P50) divide a amostra em duas metades: 50% das crianças terão um peso abaixo do P50 e a outra metade terá uma peso superior ao P50. O percentil 75 (P75) divide a amostra em 75% que pesam abaixo de P75 e 25% que pesam mais que o P75.

Com esta informação é mais fácil interpretar as curvas dos percentis que aparecem no boletim de saúde infantil. Primeiro foram realizadas milhões de pesagens a crianças saudáveis, ao longo do seu crescimento. A partir dos valores obtidos calcularam-se os percentis para cada idade. Depois, foi só marcar no gráfico os valores do percentil 5 para cada uma das idades e ficou desenhada a curva do P5. Fez-se o mesmo para o P10, P25, P50, e por aí fora. Com esta curva podemos fazer o raciocínio ao contrário, isto é, podemos pegar no peso das nossas crianças e ver em que percentil ele calha.



Por hipótese, se o meu filho com 8 meses, pesa 9,6 kg (960 g), o peso dele corresponde ao P75. Logo, eu sei que 75% das crianças com 8 meses são mais leves do que ele; e 25% são mais pesadas. Posso fazer o mesmo para o comprimento/altura e para o perímetro cefálico, nos respectivos gráficos.* 

Agora, o facto de ele ter um peso no P75 faz dele gordo? Não obrigatoriamente. O peso depende da altura e, se ele for alto, pesará mais. O mesmo se passa para percentis baixos. Um menino que tem um peso próximo do P5 não quer dizer que esteja magrinho. Pode  ser apenas mais pequeno que a maioria da população. De facto mais importante do que olhar para o percentil de peso numa determinada idade, interessa ao médico ver a evolução do percentil da criança ao longo do tempo. Ou seja, uma criança que cresce ligeiramente acima do P10 de peso a vida toda, mas que a certa altura começa a descer e cruza para baixo da curva do P5 (ver a curva vermelha no gráfico acima) deve preocupar o médico e obriga a uma investigação aprofundada para a causa da perda de peso. Esta regra de 'cruzar dois percentis' é uma regra de ouro que se aplica também ao aumento súbito do peso (da altura e do perímetro cefálico).

* Nota o gráfico acima corresponde às tabelas de percentis antigas que já deveriam ter sido substituídas nos boletins de saúde infantil de todos os nascidos de 2013 (segundo notícia do Público), mas não foram. Elas baseiam-se em estudos americanos, onde os bebés estudados eram maioritariamente caucasianos e alimentados com leite adaptado. Em 2006, a OMS sugeriu curvas mais realistas, baseada numa população mais heterogénea e alimentada com leite materno. São estas as utilizadas por uma grande parte dos pediatras (e podem ser consultadas aqui).

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