Há dias, a minha Mulher deixou-me uma mensagem no
facebook de profundidade intensa mas disfarçada. «Keep calm and blog on». As Mulheres (estas de M grande) são mesmo assim. Lêem-nos nas entrelinhas e ultrapassam todas as barreiras para nos vir abraçar, apoiar, confortar. Nos dias anteriores ao nascimento do Manuel, principalmente com a ameaça de parto pré-termo, apoderou-se de mim um nervoso miudinho. Ser médico, especialmente na área pediátrica, dá-me ferramentas para lidar com a maioria dos problemas da saúde doméstica, mas acrescenta muita preocupação. Conheço demasiadas doenças congénitas, muitas sem diagnóstico pré-natal, demasiadas complicações peri-natais, demasiados casos tristes, os quais preferia não viver. Diz-se que 'quem não sabe, é como quem não vê'. Sabendo, não conseguia travar a preocupação crescente sobre o que poderia acontecer no dia do parto do MM. Já fora assim aquando do nascimento do JM, pelo que a Mãe percebeu este meu sofrimento. Apesar de estar em repouso absoluto por indicação médica, ter que acelerar as últimas preparações pré-parto e carregar uma barriga que lhe causava dores dia e noite, fez de tudo para me acalmar. «Keep calm and blog on». Como quem diz, enquanto escreves, entretens os pirolitos. Força.
São 9 meses a planear o dia do nascimento de um filho. Onde nascer? Quando nascer? Que mensagem enviar? A quem? «O MM já nasceu. Pesa não sei quantas gramas. Mede uns tantos centímetros. Mãe e bebé estão bem». Mas não estão. Ou melhor, não estavam. À última da hora, mensagens secas pelas lágrimas de uma Mãe que chorava. O mundo aos trambolhões pela escada abaixo.