Dois previlégios.

Hoje, a caminho do hospital, ouvia em podcast uma reportagem da TSF sobre o abandono dos velhos nos hospitais. Vinte e dois minutos, onde o jornalista Nuno Amaral toca nos pontos essenciais, apresenta todos os pontos de vista (dos cuidadores, IPSSs, médicos, assistentes sociais) de forma clara, concisa e esclarecida. Uma peça jornalística muito bem feita. Não é fácil prender a atenção apenas pelo som, quando o que estamos habituados é às imagens 'sonoras' da televisão  Surpreendentemente, ele consegui-o. Podem ter acesso ao podcast aqui.

Contava eu que ia a caminho hospital, a ouvir falar do abandono dos velhos nos respectivos hospitais. Mas a tarefa dominical que me levava até Braga era exactamente oposta: dar alta, ou deixar a alta preparada, para que as crianças internadas pudessem voltar a casa a tempo de passar o Natal na companhia das suas famílias. No banco de trás, o JM percebeu do que se falava, pelo menos em parte. «O hópital do papá?». «Não. No hospital do papá, estão meninos que vão para casa com os pais deles», respondi.


Foi a primeira vez que o JM visitou o Hospital de Braga - «hópital novo» ou «hópital no longe», como ele lhe chama. O hospital é grande e moderno. Tem um átrio enorme que parece um centro comercial, onde o JM ficou a brincar com o avô, enquanto o pai passava visita aos meninos internados. Desci e, claro!, o JM queria mais do que ver o centro comercial. «Quero dar um chupa-chupa, para tirar o dói-dói aos meninos». O pequeno acredita no poder analgésico do açúcar  (E bem, como explicarei um dia). Subimos. Mostrei a sala de actividades. Entrámos nos quartos dos meninos que já iam embora. Distribuímos a 'medicação' prescrita pelo Dr. JM. Desejámos Feliz Natal.

É nestes dias, em que choco de frente com os contrastes desta vida (o velho e o novo, o doente e o saudável, o desespero e a esperança) que me sinto abençoado pela pela profissão que escolhi e pelo filho que tenho.

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