Ensinar a comunicar = ensinar a perdoar

«Mais do que em qualquer outro lugar, é na família que, vivendo juntos no dia-a-dia, se experimentam as limitações próprias e alheias, os pequenos e grandes problemas da coexistência e do pôr-se de acordo. Não existe a família perfeita, mas não é preciso ter medo da imperfeição, da fragilidade, nem mesmo dos conflitos; preciso é aprender a enfrentá-los de forma construtiva. Por isso, a família onde as pessoas, apesar das próprias limitações e pecados, se amam, torna-se uma escola de perdão. O perdão é uma dinâmica de comunicação: uma comunicação que definha e se quebra, mas, por meio do arrependimento expresso e acolhido, é possível reatá-la e fazê-la crescer. Uma criança que aprende, em família, a ouvir os outros, a falar de modo respeitoso, expressando o seu ponto de vista sem negar o dos outros, será um construtor de diálogo e reconciliação na sociedade.»
Estas palavras foram escritas pelo Papa Francisco, por ocasião do Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se comemorou no passado dia 23 de Janeiro. Transcrevo-as aqui, porque elas têm ressoado na minha cabeça durante os últimos dias. Um parágrafo sozinho leva-nos a tantas reflexões...

1. Devemos tentar criar crianças que sejam o nosso reflexo? Apesar de ser quase instintivo, querermos criar os nossos filhos à nossa imagem, qualquer pai ou Mãe sabe que a tarefa não é fácil. Deveremos lutar tanto assim por criar seres iguais a nós? Ou deveremos fomentar a diversidade mesmo entre a nossa prol? Deixar que cada criança desenvolva capacidades, interesses e até ideologias que sejam um reflexo de si própria e não reflexo dos pais? Julgo que existe um ponto de equilíbrio entre estas duas forças (igual aos pais versus igual a si próprio) onde podemos viver mais felizes (pais e filhos).

2. Será que mesmo nas discussões mais pequenas lá de casa, damos assim tantas oportunidades aos nossos filhos para discordarem de nós? Será que os educamos a argumentar e contra-argumentar, preparando-os para «ouvir os outros, a falar de modo respeitoso, expressando o seu ponto de vista sem negar o dos outros»? Não quero peixe. Porquê? Porque este peixe pode estar contaminado de mercúrio. 10 pontos na argumentação, comes só arroz e vegetais. Acho que com o cansaço diário é mais fácil impor a nossa vontade, ameaçar com um castigo e pronto. Mais uma vez, tem que haver um equilíbrio entre aquilo que impomos e aquilo que cedemos. Porque não ceder mesmo quando sabemos estar cheios de razão? Nem que seja para a cria sentir o prazer da vitória no debate, de vez em quando.

3. E finalmente o ponto mais sensível: quantas vezes perdoamos? Perdoar um filho é fácil. É aquele olhar piedoso, o beicinho que treme, um abraço apertado. Mas quantas vezes damos mostras públicas que perdoamos os outros? Aqueles que nos ofendem violentamente... É ou não verdade que perante os nossos filhos vestimos a pele de durões? Não cedemos. Não abdicamos do nosso orgulho. Muitas vezes programamos uma vingançazinha e (pior) verbalizamo-la em frente aos nossos filhos. «O perdão é uma dinâmica de comunicação.»  Devemos ensinar os nosso filhos a perdoar, sem ter vergonha disso, sem com isso ferir o orgulho de ninguém. E ensinar a perdoar faz-se, pelo exemplo, perdoando. O que nem sempre é fácil...

Gostava de saber a vossa opinião sobre isto.

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