O Autismo, mitos e controvérsias!

A convidada especialista desta semana é minha amiga há muiiiiiitos anos (antes de eu ser médico, antes de ela ser psicóloga). A Dra. Ana Aires Martins é psicóloga clínica. Actualmente exerce no Centro Integrado de Psicologia e Saúde Mental. Tem especialização (e vasta experiência) na intervenção cognitivo-comportamental em contexto escolar, hospitalar e privado. Especializou-se em Neuropsicologia da Infância e Adolescência. Quem melhor para responder ao desafio da Sofia e escrever sobre o Autismo? Está tudo devidamente resumido no texto que se segue. Partilhem, porque conhecer é não descriminar (e até ajudar).

O Autismo, mitos e controvérsias!
Ana Aires Martins

O autismo é uma perturbação neurodesenvolvimental, ou seja, uma perturbação global do desenvolvimento com uma base biológica cerebral. Sabe-se que os fatores genéticos parecem ter um papel relevante, mas alguns estudos indicam que é muito provável que a causa não seja meramente genética e que outros fatores, como o ambiente, possam ter influência no seu aparecimento e na gravidade com que se manifesta. A variabilidade fenotípica das perturbações do espectro do autismo, refletem provavelmente a interação de múltiplos genes dentro do genoma individual e a existência de diferentes genes e de diferentes combinações de genes nos indivíduos afetados. Os estudos indicam que estas crianças apresentam níveis elevados de serotonina periférica, persistência de reflexos primitivos, macrocefalia e alterações ao nível do eletroencefalograma.

Um dos mitos comuns sobre o autismo é de que as crianças autistas vivem no seu mundo próprio, interagindo apenas com o ambiente que criam. Concomitantemente, existe também o mito de que a criança autista tem que ter necessariamente um atraso mental. Sabe-se que as perturbações globais do desenvolvimento apresentam défices graves em áreas de funcionamento no processamento de informação. Contudo, pode haver um funcionamento razoável noutras áreas. Usualmente, ocorre uma incapacitação generalizada grave, sendo que a mais conhecida é o autismo. As áreas habitualmente afetadas são: linguagem, interação social, atividades e interesses.

A possibilidade de ajuda e intervenção depende da gravidade e inclui intervenções muito específicas, individualizadas e de processo lento.


Asperger, Autismo, Perturbação de Rett ou Desintegrativa da Segunda Infância?
Das várias perturbações globais do desenvolvimento existentes, os pais podem ficar confusos ao procurar encontrar respostas para a problemática do seu filho. O autismo destaca-se da perturbação de asperger na sua especificidade, ou seja, quando falamos em asperger, falamos igualmente numa perturbação global do desenvolvimento com défice acentuado na linguagem escrita e falada. Em contraste com o autismo, os primeiros sinais ocorrem depois dos três anos de idade. A incapacidade social destas crianças torna-se mais notável com o tempo, ou seja, ao longo do seu desenvolvimento. No que concerne à perturbação de rett, o desenvolvimento da criança é normal até aos cinco meses e a partir dessa altura ocorre a desaceleração do perímetro craniano. Entre os dois e os cinco anos ocorre uma regressão ao nível do desenvolvimento. Contudo, a grande diferença encontra-se ao nível da prevalência, pois esta perturbação ocorre exclusivamente no sexo feminino. Enquanto que as alterações ao nível do autismo se verificam muitas vezes no primeiro ano de vida, a perturbação desintergrativa da segunda infância, aparece como uma grave regressão evolutiva após, pelo menos, um desenvolvimento normal até cerca dos dois anos de vida da criança.

Podemos definir a perturbação autística como uma perturbação que é caracterizada por um défice acentuado na interação e comunicação social, a par de um desenvolvimento acentuadamente anormal, nomeadamente ao nível social. A criança autista, apresenta um reportório bastante restritivo de atividades e interesses. O autismo é uma perturbação crónica mas não degenerativa.

As crianças autistas manifestam dificuldades acentuadas ao nível da interação, raramente manifestam alguma satisfação, apresentam dificuldades em ler e expressar sinais verbais e não-verbais, sendo geralmente desinteressadas.

Ao nível da linguagem, estas crianças não desenvolvem uma linguagem completa e madura, mas idiossincrática e por vezes sem sentido. Frequentemente, a criança autista recorre à linguagem metafórica, apenas compreendida pelos seus cuidadores diretos. Pode ocorrer com frequência a repetição de frases, sem que a criança compreenda o seu significado. A capacidade imitativa e jogo imaginativo estão também comprometidos.

Ao nível dos interesses, a criança autista pode ter algum interesse estereotipado, com dependência rígida de rotinas que não quebram (estão por exemplo muito interessados em datas e números de telefone, etc.). Frequentemente, observa-se uma necessidade muito grande por parte da criança em seguir rotinas, como ir para a escola sempre pelo mesmo caminho, reagindo por norma muito mal a qualquer tipo de alteração.

Ao nível dos movimentos corporais, a criança autista pode apresentar tendência para executar movimentos estereotipados e repetitivos, como bater palmas, estalar os dedos, balançar-se, inclinar-se, etc.

A intervenção com estas crianças, deverá ter sempre em conta a estimulação dos comportamentos sociais , interação no jogo e promoção de formas comunicacionais.

Sinais de Alerta
Existem alguns sinais de alerta que devemos ter em conta quando consideramos que o nosso filho apresenta alguma anomalia ao nível desenvolvimental. Estes sinais subdividem-se em três categorias: comunicação, interação social e comportamento.
  1. Comunicação:
  2. Interação social
  3. Comportamento:

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