Vacina contra o rotavirus provoca risco aumentado de invaginação intestinal

Saíram dois artigos muito importantes no último New England Journal of Medicine. Ambos alertam para o risco aumentado de invaginação intestinal após a toma da vacina contra o rotavirus, seja a monovalente (Rotarix) seja a pentavalente (Rotateq). Ambos os estudos são multicêntricos e incluem centenas de milhares de crianças. Foram realizados no Estados Unidos da América, pelo que são facilmente poderemos transpor para a realidade nacional.

Em tempos escrevi sobre isto. Nem o JM nem o MM fizeram esta vacina. Como são os cirurgiões pediátricos que tratam as invaginações, só a pequena suspeita de eles poderem ter esta doença (ler post sobre invaginação intestinal) fez com que não lhes déssemos a vacina.

Longe de mim querer fazer uma campanha contra estas vacinas. O risco relativo de desenvolvimento de invaginação intestinal por qualquer das duas vacinas disponíveis em Portugal é apesar de tudo muito pequeno. Segundo os estudos agora publicados, o risco atribuível à vacina monovalente (Rotarix) é 5,3 por cada 100 mil crianças vacinadas e de 1,5 por cada 100 mil crianças vacinadas com a vacina pentavalente (Rotateq). De qualquer forma o risco está lá, pelo que, na minha opinião, é preferível instruir os pais e educadores a identificarem as gastroenterites víricas e a tratá-las longe dos hospitais. Já agora, podem ler aqui quais são as medidas gerais para tratar uma criança com vómitos e qual a melhor solução para hidratação oral.

Como escrevi na altura, das gastroenterites que recorreram aos serviços de urgência pediátricos dos hospitais do Minho, «apenas 15,6% se deveiam- Isto responde à pergunta dos pais que, dando a vacina contra o rotavírus aos seus filhos, eles tenham gastroenterite na mesma. De facto, será quase inevitável que eles não venham a ter por outro vírus ou bactéria qualquer. (...) Apenas 12% das crianças com gastroenterite que recorreram ao SU  (rotavírus ou outras) necessitaram de internamento. A grande maioria das gastroenterites tratam-se em casa, com medidas de hidratação oral. Talvez muitas delas não tivessem sequer necessidade de recorrer ao SU. Isto mostra que efectivamente a gastroenterite, seja por rotavírus ou outro vírus, é uma situação benigna e de fácil resolução. Valerá a pena correr o risco (ainda que pequeno) de uma eventual invaginação?»

Adenda (16h37): Têm chovido dúvidas no facebook, pelo que acrescento aqui estes dois esclarecimentos: 1) O risco de invaginação intestinal é mais nos primeiros dias-semanas, a seguir à toma. 2) O risco na segunda toma da vacina é muito menor que na primeira (mas existe). Se não for dada a segunda toma, há menos imunização contra o vírus mas não existe mais problema nenhum.

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