Seis medidas para evitar a obstipação na criança

Se pensarmos bem, a maior parte das crianças passa nalguma fase da sua vida por um período de obstipação (aqui não entendida como uma doença, mas como um período em que as fezes saem mais duras e/ou se passam vários dias sem sair). É muito frequente no desfralde. Nesta altura, é comum o cócó ser associado a «porcaria», «coisa feia», «nojo». A criança passa automaticamente a reter as fezes, porque para ela passa a ser uma coisa má. Mas também há coisas bem mais simples, como mudar de escola, ir de férias, alterações da rotina, que nalgumas crianças são suficientes para 'prenderem o intestino'. Julgo que os conselhos que se seguem podem ajudar a evitar e a tratar algumas destas situações:

Primeiro, nunca associar as dejecções a coisa feia, a porcaria, a mau comportamento. Como disse em cima, é uma tendência natural no desfralde, mas é uma atitude muito errada e que pode originar obstipações muito graves. O desfralde deve ser sempre ser feito pelo incentivo (feedback positivo), ou seja, premiando quando a criança pede para ir ao pote, quando se dirige sozinha à casa de banho, quando passas a primeira noite sem xixi na cama, e por aí fora. Nunca repreender (e muito menos humilhar) as crianças pelos deslizes. Estes devem sempre ser desvalorizados.

Segundo , o intestino e o sistema nervoso que o regula educam-se. É muito importante que a criança tenha um momento diário para se sentar no pote ou na sanita, mesmo sem vontade. Fica ali 15 minutos, sem dramas, sem treinadores de bancada aos gritos. Apenas ali sentada confortavelmente, a ler um livro, a brincar com o tablet, etc. É importante criar esta rotina, idealmente sempre à mesma hora do dia.

[fonte: parentgenius.com]

Terceiro, um boa hidratação é essencial. Como apartir das 18 horas beber muita água pode representar inundação durante a noite, o melhor é beber toda a água necessária enquanto está na escola. Geralmente aconselho levar um cantil de água de manhã (digamos de 0,5L, dependerá sempre da idade, da actividade, do calor exterior). Pedir à educadora para ir oferecendo água, porque a criançada é muito esquecida. Quando chegar a casa, não deverá restar pinga de água.

Quarto, implemento como obrigação matinal comer uma peça de fruta. Há frutas mais amigas do intestino que outras. Comer uma laranja, uma ameixa ou um kiwi ao pequeno-almoço é o melhor medicamento que podemos dar a uma criança. De facto, chega a ser o melhor suplemento vitamínico que tantas vezes os pais pedem na consulta.

Quinto, a coisa que mais faz movimentar o intestino são as fibras. Uma alimentação rica em fibras é obrigatória, mas nem sempre é fácil: ou porque não come fruta, ou porque não come legumes, ou porque a sopa é só batata e cenoura. Um remédio baratinho e muito eficaz é o farelo (vende-se em qualquer supermercado, na zona das dietas). Juntar uma colher no iogurte e outra misturada na sopa é muitas vezes suficiente. Não existe uma dose certa, a ideia é ser imperceptível na comida. Devo alertar que não adianta aumentar a dose de fibras sem uma boa hidratação (ver ponto terceiro). As fibras aumentam os resíduos nas fezes, mas se não houver aporte água suficiente, elas vão ficar secas e podem piorar a obstipação.

Sexto, reforço positivo. Por cada passo em frente (pediu sozinha para ir à casa de banho, trouxe a garrafinha de água vazia, lembrou-se da peça de fruta de manhã) premiar a criança. Às vezes basta um beijinho sentido. É muito importante saber que está a ter progressos e que isso deixa os pais felizes.

 Estas são medidas gerais que os pais podem tentar em casa. Se o problema persistir, se a criança referir dor na defecação, mal-estar abdomial ou anorexia/vómito, é importante recorrer a médico ou pediatra assistente. É possível que um deles prescreva um laxante oral ou um enema rectal. São formas rápidas e eficazes de restabelecer o trânsito intestinal, mas que estas deverão sempre ser acompanhadas de alterações alimentares e de hábitos de vida que evitem a recorrência do problema.

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