Gripe: vacinar ou não?

A vacinação contra a gripe já começou. Perguntas óbvias: Quem deve ser vacinado contra a gripe? Tem que se fazer todos os anos? Devemos vacinar as nossas crianças? Quando?

[fonte: southweb.org]

Antes de mais, parece que o vírus da gripe A (o temido H1N1) não é assim tão mau. Pelo menos as estirpes que têm chegado a este lado do mundo, não têm feito mais estragos do que os seus primos de anos anteriores. Há quem diga que tal, não se deve à menor virulência do vírus, mas sim ao facto de termos actuado preventivamente com uma vacinação em massa em 2009 e os meios técnicos disponíveis hoje em dia (medicação, acesso aos serviços médicos, etc.) são mais eficazes do que seriam na altura das grandes pandemias de gripe do passado. Há quem veja interesse das farmacêuticas em criar um falso problema, para vender mais vacinas.

Os vírus trocam muitos genes uns com os outros e, por isso, existe uma infinidade de combinações genómicas possíveis e uma correspondente infinidade de estirpes diferentes. Esta é a principal razão para haver uma vacina diferente todos os anos. Cada ano procura-se que a vacina combata os vírus mais comuns do ano anterior e/ou que se suspeitam vir a atacar em força no ano em causa. Felizmente, e como existe também muito material genético comum, mesmo que a vacina de um ano não proteja para uma estirpe em específico, existe sempre alguma reacção/protecção cruzada, o que ajuda também a proteger para as estirpes não incluídas na vacina desse ano.

As vacinas contêm pequenas partículas do vírus que activam o nosso sistema imunitários (isto é, as nossas defesas), mas sem o activar demasiado ao ponto de provocar doença (neste caso, a gripe). Esta é a forma do nosso organismo 'aprender a defender-se', caso venha uma virose séria. É frequente a pessoa vacinada sentir algum desconforto, sensação de mal estar, ou mesmo sintomas gripais ligeiros, nos dias seguintes á injecção. Deve-se a esta activação do sistema imunitário.

Para que as nossas defesas estejam prontas para o Inverno, altura em que as infecções respiratórias por vírus são mais frequentes, recomenda-se a vacinação em Outubro. A Direcção Geral de Saúde recomenda «fortemente» e dá prioridade a:
  1. Pessoas com idade igual ou superior a 65 anos; 
  2. Doentes crónicos e imunodeprimidos, com 6 ou mais meses de idade;
  3. Grávidas com tempo de gestação superior a 12 semanas;
  4. Profissionais de saúde e outros prestadores de cuidados (lares de idosos, designadamente).
Os primeiros três devem ser vacinados por terem risco mais complicações e infecções mais graves, se 'apanharem uma gripe'. Os últimos devem vacinar-se para protecção das pessoas que tratam/cuidam, uma vez que podem ser eles próprios transportadores assintomáticos do vírus. Há quem considere haver um dever ético dos profissionais de saúde em o fazer. porque cuidar da saúde dos nossos doentes faz-se também protegendo-o de nós próprios e zelando pela saúde pública. (Se vos interessar o tema, recomendo este vídeo na Medscape.) E porque é de saúde pública que se trata, a maior parte das vacinas são gratuítas. Julgo que só ficam de fora as grávidas. Podem descarregar as normas de orientação da DGS aqui.

E as crianças? Devemos vaciná-las? Em 2009, a Sociedade Portuguesa de Pediatria recomendou a vacinação de todas as crianças acima dos 6 meses de idade contra o H1N1 (ver aqui). Entretanto o H1N1 foi incluído na vacina sazonal (ou seja, a vacina da gripe anual), pelo que (até comunicação em contrário) esta vacinação continua indicada. A verdade é que a força desta recomendação tem perdido força. Por exemplo, desde o ano passado, os nossos vizinhos espanhóis recomendam apenas a vacina em crianças portadoras de doenças crónicas (como o ponto 2. da nossa DGS) e em crianças que estejam em contacto próximo com pacientes de risco (ou seja, crianças ou adultos que se incluam nos pontos 1 a 3). Faz sentido, porque (tal como os profissionais de saúde) as crianças são grandes transportadoras de vírus, mesmo quando não apresentam sintomas. (Podem ver as recomendações da Associação Espanhola de Pediatria aqui.) Nos Estados Unidos da América, que jogam sempre mais 'à defesa' o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) mantém a recomendação para vacinar todas as crianças acima dos 6 meses e todos os adultos.

Posto isto, a decisão de vacinar as crianças vai ser quase uma decisão pessoal. Da mesma forma que eu próprio decido ou não tomar a vacina, vou ter que decidir se os filhotes vão ou não fazê-lo. Nesta decisão, julgo que a opinião dos pediatra ou médico assistente é preciosa.  As únicas contra-indicações (ou seja, situações em que as crianças não devem ser vacinadas) são: idade inferior a 6 meses, história conhecida de reacção alérgica à vacina ou a alguns dos seus excipientes (como é o caso do ovo). Pessoalmente, acho a recomendação dos pediatras espanhóis é a mais equilibrada. Assim, deverão ser vacinadas:
  1. crianças acima dos 6 meses com doenças crónicas ou imunodeficiências (tal como recomenda a DGS);
  2. crianças com irmãos menores que 6 meses ou mães grávidas para lá das 12 semanas de gestação;
  3. crianças que vivam com avós (acima dos 65 anos) ou doentes (adultos ou crianças) com especial risco de desenvolverem infecções respiratórias graves.
 De qualquer modo, reforço que a decisão de vacinar os filhos contra a gripe deve ser tomada no seio de cada família e com ajuda do pediatra e/ou médico assistente.

[fonte: who.int]

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