Diversificação alimentar sob a perspectiva de uma pediatra que também é Mãe!

A Convidada Especialista desta semana é Pediatra. A Dra. Filipa Vasconcelos Espada foi «Mãe pela primeira vez aos 40 anos», orgulhosamente. O seu menino nasceu pouco tempo antes do MM, pelo que as aventuras alimentares estão a começar de ambos os lados. Quem melhor para nos deixar umas dicas sobre a introdução dos novos alimentos durante o primeiro ano de vida? A Dra. Filipa trabalha no Hospital Pedro Hispano (Matosinhos) e no Hospital da Arrábida (VNGaia).

Diversificação alimentar sob a perspectiva de uma pediatra que também é Mãe!
Filipa Vasconcelos Espada

A diversificação alimentar é uma etapa fundamental para o adequado crescimento do lactente e para o seu desenvolvimento físico, psicomotor, sensorial e cognitivo. É o meio de transição do aleitamento para a alimentação em família e um meio de sociabilização. É à mesa da refeição, com muito amor, persistência e paciência, que se ensinam e se aprendem regras sociais, que se partilham experiências e problemas... É também, à mesa, que podemos promover a saúde e o crescimento do nosso filho e torná-lo, gradualmente, um adulto saudável, responsável, sociável e feliz ... Mas para isso são precisas regras!
[imagem enviada pela autora]

Até aos 4 meses devemos manter, preferencialmente, o aleitamento materno exclusivo. O leite adaptado em exclusividade ou como complemento será por opção materna, doença ou insuficiência láctea. A introdução de novos alimentos nunca deve ser estabelecida antes dos 4 ou após os 6 meses. Varia, dentro deste intervalo, dependendo de condicionantes como o inadequado crescimento do lactente ou da necessidade da mãe voltar ao trabalho. Uma adequada introdução dos alimentos ajuda a prevenir uma série de doenças como alergias, obesidade, desnutrição, hipertensão arterial, doença celíaca, diabetes mellitus tipo 1...

Não existe uma base científica de recomendação da ordem de introdução dos novos alimentos. Esta depende das características do lactente, da presença de alergias, da área geográfica e dos hábitos familiares. Mas existem regras que devem ser respeitadas:
Como eu faço: Podemos sempre iniciar a diversificação alimentar com papa láctea sem glúten ou com sopa de legumes. Eu escolho iniciar com sopa de legumes porque o paladar para o doce é inato pelo que é mais importante treinar precocemente o paladar para sabores não doces.

Sopa de legumes
Como referi, pode ser a primeira refeição a ser introduzida. Entre os 4 e os 6 meses. Iniciar sempre com 3 legumes frescos e deve ser, idealmente, cozinhada no próprio dia. A sua consistência deve ser, inicialmente, cremosa e passando progressivamente a grumosa e depois com pequeninos pedaços.
Como fazer? Cozer abóbora, 1 cenoura média e 1 batata média ou 3 colheres de arroz; acrescentar 5 a 7,5ml de azeite < 0,5º de acidez no final da cozedura; nunca acrescentar sal. Introduzir mais 1 novo alimento à sopa inicialmente de 7 em 7 dias e depois de 3 em 3 dias. Destes podemos escolher: alface, curgete, couve-flor, couve coração, couve lombarda, alho francês, brocúlo, cebola, alho...
Ensino aos pais dos meus doentes uma mnemónica para saberem que alimentos não devem introduzir nesta idade: alimentos com folhas verdes escuras: espinafres, nabiças, grelos, agrião; alimentos vermelhos: tomate, pimento; alimentos roxos: beterraba, couve roxa, nabo; leguminosas: grão, feijão, ervilhas e favas.
Depois podemos, alterar a base da sopa de legumes de cenoura, batata e abobora para, por exemplo: curgete, couve flor e arroz e acrescentar mais um ou dois legumes.

Fruta
A fruta deve ser introduzida como complemento de uma refeição, habitualmente no final da sopa de legumes. Pode ser iniciada entre os 4 e os 6 meses, uma semana depois de ser introduzida a sopa de legumes. Deve ser fornecido um fruto de cada vez e não uma mistura de frutas. Nunca acrescentar açúcar.
Evolução semanal recomendada: maçã ou pêra cozida em puré; maçã ou pêra crua trituradas na varinha mágica ou esmagadas com um garfo (escolher fruta madura); banana madura; melão ou meloa; manga ou papaia; alperce... Os frutos vermelhos (morango, amora, mirtilhos, framboesa e tomate), o kiwi e o maracujá só devem ser introduzidos após os 12 meses.

Papa de cereais
A papa sem glúten pode ser introduzida, também entre os 4 e os 6 meses e pode ser láctea (para dissolver em água) ou não láctea (dissolvida no leite materno ou no leite prescrito pelo pediatra). A quantidade de farinha/papa recomenda é de 35 a 50g/dia. A papa com glúten só deve ser introduzida entre os 6 e os 7 meses, mas nunca depois dos 7 meses. Administrar uma vez por dia e nunca adicionar açúcar.

Carne
Iniciar após os 6 meses. A sua introdução começa pelo caldo de carne, que é feito cozendo peito de frango ou peru, sem pele ou gordura, no caldo de legumes e retirar a carne antes de passar com a varinha mágica.
Uma semana a 15 dias depois, já se faz a sopa de carne inicialmente com 10g de carne, aumentando progressivamente a quantidade para 30 a 40g por dia. Iniciamos com o frango ou peru, posteriormente o coelho, a avestruz ou o pato, de acordo com os hábitos familiares e finalmente a carne de vaca. A carne de porco só deve ser fornecida após os 12 meses.

Peixe
Introduzir aos 9-10 meses, começando pela pescada, abrótea, linguado, dourada, solha. Deve ser sempre peixe muito fresco ou congelado ainda em alto mar. É mais fácil escolher postas grandes para não terem tantas espinhas.

Ovo
A gema pode ser introduzida aos 9 meses e devemos administrar ¼ de gema em dias alternados. O ovo inteiro deverá ser administrado apenas perto dos 12 meses de idade.

Iogurte
Introduzir após os 9 meses, existindo no mercado vários com composição mais adequada ao lactente. Deve, a partir dessa data, ser consumida uma porção de 150 a 200ml de iogurte por dia.

Continua...

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