Lavar as chupetas com a nossa saliva?

Na próxima vez que virem um pai (ou mãe) a pegar na chupeta do chão e a levá-la à sua própria boca antes de a dar ao filhote pensem neste estudo que saiu este mês no Pediatrics. Um grupo de investigadores da Carolina do Norte, estudou 184 bebés aos 18 e aos 36 meses e descobriram que os bebés cujos pais chupavam na chucha para a 'desinfectar' tinham menos alergias. Em comparação com a água corrida ou fervida, a saliva paterna reduziu os sinais e sintomas de eczema, asma e alergias alimentares. O estudo está disponível na íntegra aqui.

Isto quer dizer que a partir de agora devemos lavar as chupetas dos nossos filhos com a nossa saliva? Não necessariamente. Esta resistência às alergias proporcionada pelo contacto com antigénios extrínsecos (neste caso dos pais) vem na mesma linha de investigações anteriores que mostraram que os animais com pêlo aumentam a resistência a infecções respiratórias (falei aqui) e que o sujar-se e brincar ao ar livre potencia a resistência imune do organismo. O nosso corpo, quando sujeito a pequenas agressões do exterior vai aprendendo a defender-se e aumenta a sua capacidade de resposta, a sua resistência. É este conhecimento que tem inspirado as últimas campanhas da Skip. 

O facto de as crianças beneficiarem da sujidade das actividades ao ar livre e das poeiras trazidas no pêlo dos cães e gatos não nos deverá negligenciar a higiene global dos pequenos. A lavagem das mãos, a higiene do corpo e da casa, criam ambientes salúbres, com poucos microrganismos, prevenindo vários tipos de infecções, principalmente da pele. O facto de as crianças beneficiarem de pequenas agressões não nos obriga a expô-las a demasiadas agressões (antes pelo contrário). 

O mesmo se aplica à chupeta, lavá-la apenas com a saliva dos pais significa substituir os microorganismos transportados desde o chão por outros que temos na nossa boca de pais. De facto, a flora bacteriana da boca de um adulto é muito diferente da de uma crianças e pode-lhes infligir o aparecimento de cáries. Um estudo apenas não consegue mudar o que são as actuais prácticas e conselhos médicos. Até existirem mais estudos (eventualmente, pesando os riscos e os benefícios da lavagem com saliva), continua-se a aconselhar a lavagem das chupetas (e já agora das tetinas) com água corrente ou fervida.