Convulsões febris: o bicho-papão que faz tremer

Neste segundo texto dos Convidados Especialistas, falamos de convulsões febris. Uma situação assustadora, para quem vê e para quem a vive. Mas, mais importante do que saber o que é, interessa saber o que fazer perante uma convulsão. A convidada é a Dra. Sofia Ribeiro Fernandes é Pediatra e Mãe do Rodrigo (5 anos). Trabalha no Centro Hospitalar S. João, no Hospital CUF Porto e no Hospital Privado de Alfena. Dedica-se sobretudo à emergência pediátrica. E (agora palavras da própria Sofia) «com os braços estendidos abraça o mundo de cá e o mundo dos príncipes e princesas sem relógio e escreve-o através do blogue: Crónicas de Estetoscópio e Biberão

Convulsões febris: o bicho-papão que faz tremer
Sofia Ribeiro Fernandes

As convulsões febris não são mais do que a resposta do cérebro à febre. São comuns em crianças saudáveis com idades compreendidas entre os 6 meses e os 5 anos e acontecem geralmente no primeiro dia de febre. Aliás, muitas vezes, os cuidadores nem se apercebem que a criança estava com febre. São um bicho-papão, assustadoras, parecem quase indomáveis... Há perda súbita de consciência, acompanhada de movimentos bruscos dos braços e pernas, ou só dos braços, ou só de uma perna, ou pode haver uma flacidez do corpo todo. Parecem infindáveis, durar horas... Mas a maioria tem duração inferior a 5 minutos. A dança assustadora acompanha-se de um olhar vago e perdido e da ausência total de resposta a estímulos, nomeadamente à chamada pelo nome. Quando a dança pára, a criança fica com sono e pouco reactiva durante algum tempo (também a parecer infindável).

 [fonte: healthcentral.com]

As 6 dicas para enfrentar o bicho-papão 

Primeira Dica: Olhar para o relógio!- Dir-me-ão com quase toda a certeza que é impossível estar a olhar para o relógio, mas se se lembrarem... É importante para caracterizar a duração das crises e consequentemente o tratamento.

 Segunda Dica: Deitar a criança posicionada de lado, o que lhe permitirá respirar melhor e, em caso de haver vómito, não haver aspiração do mesmo, e numa superfície confortável e ampla de forma a que nessa dança irrequieta não se magoe.

Terceira Dica: Proibido colocar qualquer coisa na boca!

Quarta Dica: Está com febre?- é difícil avaliar a temperatura corporal na maioria das crianças, muito mais ainda se a criança estiver a convulsivar, por isso, se tiver febre, por avaliação quantitativa com termómetro ou avaliação pelos tão conhecidos termómetros de mão na testa (subjectiva, tal como as mãos e pés frios com o corpo escaldante), administrar um supositório de paracetamol na dose adequada ao peso. Se não tiver febre, não é convulsão febril, mas também um paracetamol em modo foguetão não fará desarranjos. Se não tiver supositório, não fazer medicação pela boca durante a convulsão, porque é altamente proibido.

 Quinta Dica: Porque a convulsão vai parar ao fim de alguns minutos, geralmente menos de 5 minutos, a criança vai ficar flácida como uma minhoca, com pálpebras sonolentas e pouco reactiva. É o chamado estado pós-ictal, que não é mais que o descanso fisiológico pós-convulsão e que deverá ser respeitado. 

Sexta Dica: É a primeira vez?- Importante ser observada por um médico para estabelecer o diagnóstico e esclarecerem as dúvidas porque pode voltar a acontecer em outros episódios de febre. Já não é a primeira vez?- Já são sábios no assunto, até porque já exploraram o bicho-papão até às entranhas, já o conhecem bem e não se esquecem de olhar para o relógio. Com certeza já têm uma arma poderosa chamada diazepam, uma bisnaga cor-de-rosa que se introduz no rabiote, às vezes precipitadamente (o que até se entende), a utilizar quando a crise dura mais do que 5 minutos. Neste caso, deverão ser observados por um médico se: a crise durar para além dos 5-10 minutos, a criança não despertar após 20-30 minutos pós-crise, os movimentos da crise foram diferentes dos das crises anteriores, ficar com dificuldade em falar, paralisia de um braço ou perna ou comportamentos que não tinha antes da crise e também se a dança voltar nas horas seguintes.

 São um bicho-papão destemido que faz tremer algumas crianças, os cuidadores e às vezes, até os que estão habituados a lidar com elas. Mas, na maioria dos casos, até aos 5 anos de idade, vão-se embora e não voltam mais…
[fonte: efepa.org]

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