Amigdalectomia: quando, como e porquê?

Mais um texto por um Convidado Especialista, o terceiro. Desta vez, sobre uma cirurgia que, apesar de ser feita na infância, não é realizada por cirurgiões pediátricos. Trata-se da amigdalectomia que, como poderão saber, é competência dos especialistas de Otorrinolaringologia (na gíria, ORL). O Dr. Ricardo Barroso Ribeiro é médico de ORL e apresenta-se como «tio e padrinho do Miguel», que (espantem-se!) nasce hoje. Trabalha no HPP-Boavista, Porto. O Ricardo é meu amigo e fez-me o favor de escrever este texto em forma de perguntas e resposta. Bastante elucidativo e prático.

Amigdalectomia: quando, como e porquê?
Ricardo Barroso Ribeiro

O que são as amígdalas? As amígdalas (amígdalas palatinas) juntamente com as adenóides (amígdalas faríngeas) e a amígdala lingual constituem o chamado anel de Waldeyer. Este anel constituído por tecido linfóide participa no sistema imunitário. Dada a sua localização privilegiada na porção inicial do trato respiratório e digestivo tem um papel activo na defesa do organismo. Participa activamente em sistemas imunológicos específicos, isto é, na produção de anticorpos específicos para determinados antigénios, que lhe são apresentados.

O que são as adenóides? Tal como explicado anteriormente também fazem parte no anel de Waldeyer. Localizam-se na nasofaringe (na parte de trás do nariz). Um aumento das vilosidades adenóides e/ou uma inflamação crónica das mesmas podem ter como resultado uma obstrução nasal crónica associados ou não, a rinorreia recorrente, otites sero-mucosas crónicas ou otites médias agudas.

[fonte: buckheadent.com]

Se se removerem as amígdalas e adenóides, as crianças ficam com menos “defesas”? Esta pergunta é controversa. No entanto, de uma maneira muito simplista, desde que a indicação cirúrgica esteja correcta, não há prejuízo para a criança em ficar sem amígdalas e/ou adenóides. Isto decorre de duas principais razões. A primeira é que por estarem sujeitas a fenómenos de inflamação crónica as amígdalas e as adenóides deixam de fazer correctamente o seu papel imunitário. A segunda é que noutras patologias, como distúrbios respiratórios obstrutivos durante o sono (apneias) malefício de um tamanho exagerado das amígdalas é muito superior a uma redução da função imunitária das amígdalas. Alguns estudos referem uma diminuição do número de anticorpos nos primeiros 10 dias após a cirurgia, mas depois normalizam. No entanto esta diminuição descrita não tem qualquer consequência no que diz respeito à diminuição das defesas do organismo.

Como se faz a amigdalectomia? A amigdalectomia consiste na remoção das amígdalas palatinas, o que é feito sob anestesia geral. Do ponto de vista técnico é relativamente simples e as complicações da cirurgia são raras, sendo que hemorragia per-operatória é a complicação mais perigosa. Pode ser feita apenas com instrumentos de dissecção e sutura da loca amigdalina (técnica clássica) ou com recurso a instrumentos de coagulação (radiofrequência; bisturi eléctrico bipolar ou monopolar). Existem algumas evidências que apontam para uma menor dor no pós-operatório, quando se utiliza a técnica clássica, mas todas as técnicas são adequadas.

Removem-se as amígdalas na totalidade? Na grande maioria dos casos, fazem-se amigdalectomias totais. Alguns sugerem a amigdalectomia parcial, nomeadamente quando a indicação é devido à suspeita de apneias durante o sono. Não há evidência que tal opção seja a mais correcta.

É necessário internamento? A cirurgia pode ser feita em regime de ambulatório, desde que seja possível fazer um tempo de recobro (recuperação) adequado e desde que os pais morem perto do hospital onde se efectuou a cirurgia (até 30 km) e tenham meios para se dirigirem ao hospital, caso aconteça alguma complicação. Quando não é feita em ambulatório, o internamento de uma noite está indicado.

Quando é que o meu filho pode ir à escola? Quais os cuidados no pós-operatório? A ida à escola depende das queixas da criança. Por norma, a analgesia com paracetamol é suficiente e dentro de 2 a 3 dias a criança já pode ir à escola com recomendação para fazer uma alimentação com dieta mole e morna/fria e com restrição para esforços físicos (que se deverá manter até aproximadamente 15 dias de pós-operatório).

A partir de que idade é que se faz a cirurgia? A idade mais frequente a partir da qual se faz a amigdalectomia são os 3 anos. No entanto esta pode ter que ser efectuada mais precocemente. Na criança (salvo raras excepções) a adenoidectomia (remoção das adenóides) está associada à amigdalectomia.

Quando está indicada a amigdalectomia na criança? São inúmeras as indicações para amigdalectomia e estão bem definidas. As mais frequentes dizem respeito a patologia infeciosa/inflamatória recorrente das amígdalas apesar de terapêutica médica adequada e aos distúrbios da respiração do sono, nomeadamente suspeita de síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS).

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