Somos do Norte, caraças!

Cá em casa, fala-se à Puorto. Em relação ao sotaque, há pouco a fazer. Vamos corrigindo o que podemos, na tentativa que o crianço não pareça um puto da Ribeira, mas não caindo em exageros. Em relação aos palavrões, a questão é mais complicada. A norte do Mondego, usamos muito calão. São um género de interjeições na frase, pelo que é difícil privar o pequeno dos jargões que vão surgindo nas conversas dos adultos. Obviamente, entre família, as discussões não implicam o uso de palavras impróprias. Quando elas surgem inadvertidamente, são meticulosamente pintadas de azul bebé e disfarçadas no encadeamento da frase, para que o pequeno não dê por nada.

A coisa não é tão simples, quando temos amigos cá em casa. Nas discussões acesas, chegam a ser cuspidos palavrões ao ritmo de 1-2 por frase por adulto presente na sala. Só nos apercebemos do JM, quando ele, semi-adormecido a um canto do sofá, grita: «Não diz essa palavra!». Ele não interrompe palavras como c$r$lho, m#rd$ e afins. Essas são palavras que ele raramente ouve e desconhece o seu significado. O engraçado é ele interromper os poças e os caraças, duas palavras pelas quais um dia foi repreendido. São as duas únicas palavras que ele filtra na conversa e dispara o alarme:  «Não diz essa palavra!».

[fonte: http://123rf.com]

As visitas encolhem os ombros e olham-me, como quem diz. «O que é que eu disse? No meio de tanta alarvidade, agora não disse nada de mal...» E, mesmo sem me perguntarem, eu respondo: «É o caraças». «Não diz essa palarvra!»

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